As evoluções tecnológicas, a
questão do espaço dos imóveis contemporâneos, a alienação
representada pelas charges. Este último me fez voltar a uma das
questões colocadas no blog Do
Fogão de Lenha ao Microondas -
“ A tecnologia doméstica aliena as pessoas?” andei refletindo a
respeito e gostaria de expor minhas ideias, que não devem encerrar a
questão, mas inaugurar aqui um debate de cunho filosófico. Um
debate que nos leve ao cerne desta questão. Ao essencial. Diria que
é um convite ao plano metafísico que possa existir na tecnologia
doméstica.
Primeiramente,
pensemos a respeito da alienação. Que alienação seria essa? Creio
que uma renuncia à liberdade imposta pelo mercado de consumo.
Qualquer tecnologia agregada ao novo, por mais singela e fútil que
seja, é motivo suficiente para que queiramos. Somos persuadidos o
tempo todo a comprar o novo simplesmente porque é novo. Somos assim
porque deixamos nos levar pela lei da compra e da oferta. Só há
oferta porque há compra, não acha? A exemplo disto, todo final de
ano é de praxe, nas redes sociais, vermos campanhas para não
comprar carro novo porque aqui no Brasil é vendido com valor
superfaturado (praticamente o triplo ou mais do valor real), mas
mesmo assim o número de vendas permanece alto. E, então, deixamos
de questionar quão necessário seria aquele produto. É como se
entrássemos numa cadeia utilitária da qual não conseguimos
escapar. Explico melhor: a busca pelo novo, pelo eletrodoméstico de
última geração neste caso específico, é incessante. É uma a
ansiedade desenfreada com a ostentação a todo custo. E claro que
essa ansiedade é reflexo da superprodução tecnológica dos tempos
modernos. A dinâmica de produção de qualquer produto é muito mais
rápida do que há 30 anos. Esta dinâmica reverbera e influencia
também esta ansiedade que nunca vai ser saciada e nos leva a
angústia. É como se um objeto suprisse um vazio que existe em nós,
mas por pouco tempo.
Em
1953, Martin Heidegger em Introdução
a metafísica já previa essa possibilidade:
Quando
a tecnologia e o dinheiro tiverem conquistado o mundo; quando
qualquer acontecimento em qualquer lugar e a qualquer tempo se tiver
tornado acessível com rapidez; quando se puder assistir em tempo
real a um atentado no ocidente e a um concerto sinfônico no oriente;
quando tempo significar apenas rapidez online; quando o tempo, como
história, houver desaparecido da existência de todos os povos,
quando um esportista ou artista de mercado valer como grande homem de
um povo; quando as cifras em milhões significarem triunfo, –
então, justamente então — reviverão como fantasma as perguntas:
para quê? Para onde? E agora? A decadência dos povos já terá ido
tão longe, que quase não terão mais força de espírito para ver e
avaliar a decadência simplesmente como… Decadência. Essa
constatação nada tem a ver com pessimismo cultural, nem tampouco,
com otimismo… O obscurecimento do mundo, a destruição da terra, a
massificação do homem, a suspeita odiosa contra tudo que é criador
e livre, já atingiu tais dimensões, que categorias tão pueris,
como pessimismo e otimismo, já haverão de ter se tornado ridículas.
Diante
deste pensamento, só me resta deixar reticências para que você
também contribua com a questão -
A tecnologia doméstica aliena as pessoas?
Pesquisa
feita por Tatiana
Souza, referencia
bibliográfica:HEIDEGGER,
Martin. Introdução
à Metafísica.
Trad. e apres, de E. Carneiro Leão. Rio de Janeiro, Tempo
brasileiro, 1966.
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