quinta-feira, 26 de março de 2015

A tecnologia doméstica aliena as pessoas?

As evoluções tecnológicas, a questão do espaço dos imóveis contemporâneos, a alienação representada pelas charges. Este último me fez voltar a uma das questões colocadas no blog Do Fogão de Lenha ao Microondas - “ A tecnologia doméstica aliena as pessoas?” andei refletindo a respeito e gostaria de expor minhas ideias, que não devem encerrar a questão, mas inaugurar aqui um debate de cunho filosófico. Um debate que nos leve ao cerne desta questão. Ao essencial. Diria que é um convite ao plano metafísico que possa existir na tecnologia doméstica.
Primeiramente, pensemos a respeito da alienação. Que alienação seria essa? Creio que uma renuncia à liberdade imposta pelo mercado de consumo. Qualquer tecnologia agregada ao novo, por mais singela e fútil que seja, é motivo suficiente para que queiramos. Somos persuadidos o tempo todo a comprar o novo simplesmente porque é novo. Somos assim porque deixamos nos levar pela lei da compra e da oferta. Só há oferta porque há compra, não acha? A exemplo disto, todo final de ano é de praxe, nas redes sociais, vermos campanhas para não comprar carro novo porque aqui no Brasil é vendido com valor superfaturado (praticamente o triplo ou mais do valor real), mas mesmo assim o número de vendas permanece alto. E, então, deixamos de questionar quão necessário seria aquele produto. É como se entrássemos numa cadeia utilitária da qual não conseguimos escapar. Explico melhor: a busca pelo novo, pelo eletrodoméstico de última geração neste caso específico, é incessante. É uma a ansiedade desenfreada com a ostentação a todo custo. E claro que essa ansiedade é reflexo da superprodução tecnológica dos tempos modernos. A dinâmica de produção de qualquer produto é muito mais rápida do que há 30 anos. Esta dinâmica reverbera e influencia também esta ansiedade que nunca vai ser saciada e nos leva a angústia. É como se um objeto suprisse um vazio que existe em nós, mas por pouco tempo.
Em 1953, Martin Heidegger em Introdução a metafísica já previa essa possibilidade:
Quando a tecnologia e o dinheiro tiverem conquistado o mundo; quando qualquer acontecimento em qualquer lugar e a qualquer tempo se tiver tornado acessível com rapidez; quando se puder assistir em tempo real a um atentado no ocidente e a um concerto sinfônico no oriente; quando tempo significar apenas rapidez online; quando o tempo, como história, houver desaparecido da existência de todos os povos, quando um esportista ou artista de mercado valer como grande homem de um povo; quando as cifras em milhões significarem triunfo, – então, justamente então — reviverão como fantasma as perguntas: para quê? Para onde? E agora? A decadência dos povos já terá ido tão longe, que quase não terão mais força de espírito para ver e avaliar a decadência simplesmente como… Decadência. Essa constatação nada tem a ver com pessimismo cultural, nem tampouco, com otimismo… O obscurecimento do mundo, a destruição da terra, a massificação do homem, a suspeita odiosa contra tudo que é criador e livre, já atingiu tais dimensões, que categorias tão pueris, como pessimismo e otimismo, já haverão de ter se tornado ridículas.
Diante deste pensamento, só me resta deixar reticências para que você também contribua com a questão - A tecnologia doméstica aliena as pessoas?
Pesquisa feita por Tatiana Souza, referencia bibliográfica:HEIDEGGER, Martin. Introdução à Metafísica. Trad. e apres, de E. Carneiro Leão. Rio de Janeiro, Tempo brasileiro, 1966.

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